terça-feira, 21 de outubro de 2008

Acabou de acabar

Todos os padecimentos,
Todos os lamentos,
Todos os procedimentos,
Mil tormentos...
Acabou de acabar!

Os choros e os risos,
Murmurios imprecisos,
Todos os seus sorrisos,
Histórias e paraisos...
Sucumbiu e finou!

Pelas suas alegrias,
Por todos, todos os dias,
Esqueço as suas mãos já frias,
Esqueço até as arrelias,
Porque acabou de finar!

Melhor ou pior, eu não sei...
A dor que fica vai passar,
Porque acabou por sossegar.
Por todo o amor que lhe dei,
Que nunca se vai ele finar...

Nunca acabará por acabar! Boa viagem a ti que acabaste de partir...ver-nos-emos mais tarde...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ondas de Maré

São como ondas de maré
Que vão deixando pequenos charcos
Resquícios de Vida
Vislumbres longínquos de fé
Pequenos mares, sem barcos,
Eternos pontos de partida.

Amigos que tenhamos connosco,
São como actos de fé,
Hoje estão aqui, amanhã não!
Pedaços de um corpo sem rosto
São como ondas de maré
Dilaceram-me a Razão!

Afogamos na expectativa fútil
O desejo que desta vez seja perfeito...
Mas o mar é revolto por defeito
É profundo, sem proa, sem ré
Barco perdido, matriz sem sé
Náufrago, submerso, vazio, inútil...

Amigos são como ondas de maré
Hoje não vivemos sem eles
Amanhã já ninguém mais recorda.
São a nossa braçada para fora de pé,
Nevasca gelada sem casaco de peles,
Cheios, vazios, a onda transborda...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Eu não sei!

Não sei do vazio que se sente
No convivio com toda a gente,
Sorrindo social, mas falso.
Esse sorriso indiferente,
Sem raiva, de ódio, ausente,
Que empurra ao cadafalso.

Não sei da pedra na garganta,
Da vontade que não levanta,
Da falta de motivação.
Não tenho beleza, nem sou criança,
Não sou triste, seca, vazia de esperança,
Sou alma negra e dura no coração!

Não sei mais o que devo perseguir,
Não sei também desistir,
Nem sei o que é raiva com dor.
Não sei da ausência do sentir,
Ir na onda e deixar fluir,
Não sei o que se espera deste autor!

CB (Não há nada a esperar!)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cinzas

Cinza claro, cinza escuro,
Esborratado no meu muro,
No muro do meu Castelo
Onde até o cinzento é tão belo.

Nuvem, névoa, nevoeiro.
Empurra-te o vento ligeiro
Deixa lá, o meu Sol descobrir
Levanta a bruma, deixa-o sair!

No doce embalo, na melancolia,
Nasce em algodão frio, este dia.
Cinza escuro, cinza claro,
Cinzento dos olhos em quem reparo.

Cinza da alvorada incerta,
Cinza na porta entreaberta,
Cinzas num sofá de cetim,
Cinzas gastas, apagadas no jardim.

Levanto o meu nevoeiro constante,
Sou a cinza, sou a lágrima errante.
Sou cinza escuro, sou cinza claro,
A bruma, a perdição e o amparo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força das dúvidas que tenho,
Não me impeça de lutar pelo que mereço.
Que as dificuldades de tudo em que me empenho,
Não me retire a coragem com que me reconheço.
Porque metade de mim é o que perdi,
Mas a outra metade é o que ainda não consegui.

Que a música que ouço ao longe seja linda,
Ainda que carregada de impaciência.
Que o homem que eu amo seja eternamente amado,
Mesmo que para mim signifique ausência.
Porque metade de mim é partida
E a outra metade é chegada.

Que as minha palavras sejam pelo menos ouvidas,
Como a única coisa que ainda resta
A uma guerreira com tantas batalhas vencidas,
Mas que mantém uma postura modesta.
Porque metade de mim é o que lutei,
Mas a outra é o que adiei.

Que esta minha teimosia em resistir,
Se transforme na paz conquistada.
Que esta inquietação que me leva a não desistir,
Seja algum dia recompensada.
Porque metade de mim é verdade
E a outra metade é vontade.

Que o medo de perder se dilua
E que todo o pouco que sou, seja visível,
Para que a esperança continue nua
E o desejo seja algo que se torne possível.
Porque metade de mim é acreditar
E a outra metade é querer concretizar.

Talvez seja preciso mais que uma simples alegria,
Para que eu me sinta realizada.
Que no mínimo, haja um pouco de magia,
Para manter o sonho acordado.
Porque metade de mim é cansaço,
Mas a outra metade é viver cada pedaço.

Que a vida me aponte uma solução,
Mesmo que aparentemente dissimulada.
Só não quero ter mais desilusão
Nem mais uma vitoria adiada.
Porque metade de mim é o que me alimenta,
Mas a outra metade é o que o coração aguenta.

Que a minha loucura seja perdoada,
Porque ela é o fruto de tanto querer
E não existe para tornar a vida complicada,
Mas antes para a tentar resolver.
Porque metade de mim é Amor,
E a outra metade também!